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Sined: Painel discute Recomposição de Aprendizagem e Tempo Integral

​Na tarde de hoje, dia 16, foi abordado durante o VII Simpósio Nacional de Educação (SINED) o Painel Recomposição de Aprendizagem e Tempo Integral - Proficiência em Aprendizagem, pelos palestrantes José Fernandes de Lima, Juliana Rohsner Vianna Toniatti e Thereza Maria de Castro Paes Barreto, sob mediação de Rodrigo Coelho do Carmo, conselheiro do Trib​​unal de Contas do Estado do Espírito Santo. 

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Durante a palestra, José Fernandes de Lima destacou a importância de refletirmos sobre o conceito de recomposição da aprendizagem, explicando que essa ideia ganhou força especialmente após a pandemia da Covid-19, quando os dados educacionais revelaram quedas no desempenho dos estudantes em relação aos resultados anteriores.

Segundo ele, ao falar em recomposição, muitas vezes partimos da ideia de que houve uma interrupção em uma trajetória escolar que precisa ser retomada. Esse olhar traz consigo a noção de que existe um caminho considerado “normal” ou “desejado”, e que quando não é atingido, torna-se necessário organizar ações de recuperação.

José Fernandes chamou a atenção para o fato de que as escolas, diante desse cenário, foram obrigadas a repensar procedimentos e estratégias, discutindo novas formas de apoiar os alunos. Ele ressaltou que a recomposição está ligada à construção de trajetórias escolares de sucesso, que não se resumem apenas à vida estudantil, mas abrangem o percurso formativo completo do indivíduo.

Assim, recomposição significa não apenas repor conteúdos, mas garantir que cada estudante tenha condições de alcançar sua trajetória de aprendizagem e vitória escolar. É uma alegria poder estar aqui para refletirmos juntos sobre a situação da juventude brasileira, suas desigualdades e os desafios que ainda persistem no campo da educação.

Tempo Integral

A professora Thereza Maria de Castro Paes Barreto destacou a experiência de Pernambuco no enfrentamento à violência contra jovens. Os dados mostram que, nas cidades que implantaram escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, houve uma queda de mais de 50% na mortalidade juvenil, em comparação com outras cidades sem essa política. Além disso, observou-se uma redução média de 12 pontos percentuais nas taxas de homicídios, e uma diminuição significativa, entre 30% e 40%, das mortes violentas de jovens de 15 a 19 anos. Esses números confirmam que investir em educação integral salva vidas.

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“Mas, apesar de avanços, ainda convivemos com desigualdades profundas. No Brasil, 2 em cada 10 jovens não estudam nem trabalham. Entre os pretos e pardos, essa proporção é ainda maior: 1 em cada 5, contra 1 em cada 7 entre os brancos. O recorte regional também é alarmante: no Nordeste, a exclusão é mais intensa do que no Sul. E quando olhamos para a questão de gênero, vemos que 1 em cada 4 mulheres jovens está fora da escola e do trabalho, contra 1 em cada 8 homens”, explicou Thereza.

Ela continuou: “Quando analisamos a evasão escolar, percebemos que 3 em cada 10 jovens estão fora da escola. Entre eles, 41,8% alegam necessidade de trabalhar, 23,8% dizem não ter interesse em estudar, e outros apontam falta de vagas, distância das escolas e custos como barreiras. Esse cenário é agravado pela desigualdade racial: jovens negros e pardos são os mais impactados, seja pela necessidade de contribuir com a renda familiar, seja pela exclusão e pelo racismo estrutural que atravessam o sistema educacional”, apontou a professora.

Ainda de acordo com Thereza Barreto, no contexto pós-pandemia, os desafios se intensificaram. “Tivemos aumento das taxas de reprovação e abandono escolar, sobretudo no 1º ano do Ensino Médio, que chegou a 16,4%. Os impactos foram ainda mais severos em áreas vulneráveis, onde o acesso à tecnologia, ao apoio pedagógico e até mesmo à segurança alimentar foi insuficiente. Hoje, sabemos que 70% dos jovens que não concluíram o Ensino Médio são negros ou pardos, e que 40% dos que abandonaram a escola o fizeram para trabalhar”, relatou.

“Esses dados não podem ser vistos apenas como estatísticas. Eles são rostos, histórias e trajetórias interrompidas. Precisamos transformar essa realidade com políticas públicas efetivas, garantindo que a educação seja não apenas um direito, mas também um caminho de proteção, inclusão e justiça social para cada jovem brasileiro”, concluiu a palestrante.

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Para a palestrante Juliana Robbsner Viana, Sergipe sediar um evento deste porte representa uma oportunidade singular de intercâmbio de saberes, de visibilidade das iniciativas locais e de fortalecimento das práticas educacionais no estado. Para ela, simpósio não apenas permite socializar boas práticas, mas também projetar políticas de impacto que respondam às necessidades específicas dos municípios sergipanos.

“Educação de qualidade é direito, compromisso e construção coletiva. O VII Simpósio Nacional de Educação reafirma esse princípio ao reunir conhecimentos, experiências e lideranças comprometidas com uma educação humana, eficaz e inclusiva. É momento de diálogo, avaliação e inovação – para que cada criança, jovem ou adulto possa desenvolver seu potencial em ambientes educativos justos, bem equipados e sensíveis às diversas realidades do nosso país”, afirmou Juliana.

O mediador, Rodrigo Coelho do Carmo, enfatizou o debate sobre o tempo integral a qualidade e o impacto na educação para as crianças sergipanas e brasileiras. “Como faremos isso, instituir essa rede integral? Olhando o curso e a quantidade de recursos disponíveis na educação para a construção dessa trilha, esse é o nosso desejo de entrega”, avaliou.

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Rodrigo Coelho ainda enfatizou o comprometimento do TCE/SE. “Sem dúvida é uma contribuição a mais para a realização do evento porque a educação é feita por vocação, crença e comprometimento e esses elementos estão presentes aqui no TCE de Sergipe”, disse ele.

Sined

O Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (TCE-SE), em parceria institucional com o Instituto Rui Barbosa (IRB), está promovendo o VII Simpósio Nacional de Educação (SINED), que acontece de 16 a 18 de setembro de 2025, em Aracaju (SE). O evento reúne especialistas, gestores públicos, professores, pesquisadores e representantes de órgãos de controle de todo o Brasil para debater os rumos da educação nacional, com ênfase na qualidade, equidade e inovação. 

O SINED 2025 propõe construir uma agenda comum entre todos os atores envolvidos na educação pública — das salas de aula às instâncias de gestão e fiscalização — para enfrentar desafios como alfabetização, educação infantil, recomposição da aprendizagem, ensino em tempo integral, gestão pública educacional, financiamento, regime de colaboração entre entes federativos, além da execução do Plano Nacional de Educação. 



Texto: Kátia Paim

Fotos: Cleverton Ribeiro e Marcelle Cristine




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